domingo, 3 de novembro de 2019

Arborização da Cidade de Brasília


A arborazição e a utilização de plantas ornamentais nas cidades ameniza o impacto visual e ecológico causado pela urbanização, especialmente nos grandes centros urbanos, como é o caso de Brasília. Não é somente uma questão de estética, embora seja evidente a beleza das espécies vegetais, é também uma questão ecológica e de qualidade de vida, pois a vegetação atenua o calor do sol e melhora a qualidade do ar, além de diminuir o sentimento de opressão do homem frente às grandes edificações.
Em resumo, a arborização urbana de Brasília foi planejada para seguir o  modelo de “cidade parque”, com grandes espaços livres arborizados; porém, durante a mega construção da cidade, a questão ambiental não foi priorizada, e toda a vegetação nativa foi derrubada. Chegada então, a hora da arborização, foram utilizadas espécies exóticas à região que não se adapataram, sendo registrado em estudos a morte de 50.000 destas árvores quando já estavam adultas.


Os parque de Brasília em 2019 - Jardim Burle Marx
Jardim Burle Marx, com pouca arborização, 2019
Segundo Lima, 2009, na concepção original, a cidade deveria ser rodeada por zonas de proteção, não edificável, contendo bosques. Os estacionamentos seriam todos cobertos por árvores e as áreas adjacentes às vias e seus  cruzamentos  seriam cobertos com  vegetação. Os  espaços  entre  os  prédios  residenciais teriam  áreas  verdes  tratadas  como  parques  de  concepção  naturalista  (SILVA,  2003).  Ainda, segundo o mesmo autor, a concepção naturalista adotada no Modernismo como modelo para o tratamento dos espaços livres, pressupunha que seu uso levasse em consideração as restrições e  potencialidades de cada sítio,  resultando em um tratamento  mais  natural  da  paisagem  que demandasse menores investimentos para implantação e manutenção.
Porém, não foi o que aconteceu...

Estacionamento sem nenhuma arborização
Após a retirada da vegetação nativa, e a urgência de vegetação para a inauguração da nova capital, em  respeito  ao  Relatório  do  Plano  Piloto  (1957)  de  Lúcio  Costa  o  qual  enfatizava  a importância da arborização dentro do conceito de Brasília como cidade-parque (LIMA, 2003 apud LIMA, 2009), foram introduzidas plantas provenientes de outras regiões do Brasil sem qualquer preocupação em  resguardar  as  características  do  ecossistema  existente, e então as mudas chegavam em grandes caminhões.

A  paisagem  desnuda  e  com  poucos  remanescentes  nativos  não  garantia  sombra  e  não preenchia  as  áreas  destinadas  a  bosques  e  aos  espaços  verdes  definidos  no  projeto  da  nova cidade.  Visando  diminuir  a  poeira  e  a  lama,  resultantes  do  imenso  canteiro  de  obras  ali instalado,  foi plantada a  grama  batatais, Paspalum  notatum Flüegge, em  extensas áreas.  Foi necessário  buscar,  principalmente  do  Rio  de  Janeiro,  espécies  arbóreas  e  arbustivas.  As  mais utilizadas  no  período  foram:  Cássias  (Cassia  siamea Lam.  e Cassia macranthera DC.), Albízia  (Albizia lebbeck Benth.), Clitória  (Clitoria racemosa Benth.),  Flamboyant  (Delonix regia Raf.),  espécie  de  Madagascar,  Jacarandá-Mimoso  (Jacaranda mimosaefolia D.Don.), sem   origem   definida,   Alecrim-de-Campinas   (Holocalyx   glaziovii Taub.),   dentre   outras (ALENCAR & LIMA, 2001 apud LIMA 2009).

Via S1 e o Jardim Burle Marx
Praça Zumbi dos Palmares
Eixo Rodoviário
Simulações realizadas nos Estados Unidos por Nowak e Dwyer (2000) avaliaram a remoção de poluentes pelas árvores urbanas. Em Nova York, o índice de remoção obtido foi de 13,7g de  poluentes por m2 de copa arbórea. O mesmo estudo ressalta a importância da floresta urbana na diminuição da concentração de CO2 do ar por meio da incorporação do carbono em seu crescimento. Segundo o autor, árvores de grande porte com diâmetro à altura do peito, DAP ≥ 77 cm, acumulam cerca de 1000 vezes mais carbono do que árvores de pequeno porte DAP ≤ 7cm (LIMA, 2009).


Eixo Monumental

Vista da rodoviária Plano Piloto


via N1 e parte do Jardim Burle Marx

Palmeiras do Palácio da Justiça
Palácio da Justiça, Ministério da Justiça e Ministério da Segurança Pública
Museu Nacional Honestino Guimarães

Vias de acesso ao Planalto
Biblioteca Nacional de Brasília Leonel de Moura Brizola
Catedral Metropolitana Nossa Senhora Aparecida
As Vias de acesso ao planalto, e ao palácio da justiça, bem como as calçadas do entorno dos principais prédios, como o museu nacional, a biblioteca, e a catedral, não contam com nenhuma vegetação, causando um grande desconforto térmico e praticamente condenando as caminhadas turísticas durante o dia.
Congresso Nacional do Brasil
O edifício do Congresso Nacional é o preferido do Oscar Niemeyer, é o Cartão-postal de Brasília, com uma concepção plástica arrojada, a sede do Poder Legislativo brasileiro é um conjunto de construções onde se destacam as duas cúpulas representando os plenários. Na foto esta a face voltada para a Praça dos Três Poderes, com seu espelho d’água. Também não conta com praticamene nenhuma vegetação arbórea, apenas uma fileira de palmeiras....

Espelho dágua do Congresso e ao fundo a Biblioteca Pedro Aleixo

Praça dos Três Poderes
Palácio do Planalto

O Palácio do Planalto, é a sede do Poder Executivo do Brasil, ele é revestido de mármore branco e da fachada principal, voltada para a Praça dos Três Poderes, são visíveis apenas quatro andares, porém possui subsolos e anexos administrativos.

Escultura "Os Candangos"


Mastro do Pavilhão Nacional



Bosque dos Constituintes
Localizado ao lado da Praça dos Três Poderes, o Parque Bosque dos contituintes tem cerca de 7 hectares onde estão plantadas cerca de 600 árvores, muitas delas plantadas por parlamentares. O Bosque começou a ser plantado em 1988, com espécies exóticas em sua maioria; em homenagem aos membros da Assembléia Nacional Constituinte, devido ao artigo 225 incluído na constituição federal e dedicado à proteção do meio ambiente. Após 20 anos abandonado, o bosque foi adotado pela câmara dos deputados, tornou-se um Parque, e passou por um projeto de revitalização, com a idéia de recosntituir a vegetação original do cerrado, seguindo as orientações de estudos relativos à flora nativa da região antes da urbanização.
Em 2008, para marcar a nova fase do bosque, na área conhecida como “Aleia das Autoridades” o então presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva plantou uma muda de aroeira (Myracrodruon urundeuva Allemão), mesma espécie que ele, como membro da Assembleia Nacional, plantou em 1988; mudas de chichá (Sterculia striata) foram plantadas pelo presidente da Câmara dos Deputados; do Senado Federal, do Supremo Tribunal Federal e pelo governador do Distrito Federal.

Chichá (Sterculia striata)
No Parque Bosque dos Constituintes

O Chichá (Sterculia striata), da família Sterciliaceae, é uma árvore decídua (perde suas folhas na seca), de médio porte, atingindo entre 8 e 14 m. No DF, ocorre nas matas secas de afloramento calcário, em floresta semidecídua, e no cerrado fechado.
Seu tronco é praticamente reto, com fuste alto, e casca levemente fissurada. Sua copa é piramidal e compacta quando jovem, tornando-se elevada e aberta quando adulta. As folhas se distinguem por serem simples e trilobada, de textura coriácea, medindo entre 15 e 20 cm, de filotaxia alterna, e concentrada nos terminais de ramos. Sua inflorescência é alaranjada e surge no DF entre fevereiro e abril. O seu fruto é uma cápsula grande que se abre espontaneamente, lançando as sementes à distância. Inicialmente de tom vermelho intenso e textura aveludada, assume textura lenhosa e cor castanha ao secar. No DF, frutifica entre junho a setembro.
É uma espécie com madeira frágil, indicada para utilização na arborização urbana, no paisagismo e na recuperação de solos degradados e ricos em calcário. Suas sementes podem ser utilizadas na alimentação humana e animal.


Tabebuia ipê, Ipê Rosa florindo em frente à sede do Banco do Brasil

Referências:

LIMA, R. M. C. Avaliação da arborização urbana do Plano Piloto. 2009. Dissertação de Mestrado  apresentada na Universidade de Brasília. Faculdade de Tecnologia. 84 p.Departamento de Engenharia Florestal.

LORENZI, H. Árvores Brasileiras: manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas nativas do Brasil. v. 1. Nova Odessa: Plantarum, 1992. 352 p.

Câmara dos Deputados: www2.camara.leg.br/a-camara

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