quinta-feira, 30 de julho de 2020

[Arvore] Araucária (Araucaria angustifolia)

A "Araucaria angustifolia" é a principal espécie da Floresta de Araucária. Pertencente à família Araucariaceae é a única de seu gênero com ocorrência natural no Brasil e está na categoria de vulnerável e na lista de espécies ameaçadas Essa espécie fornece além de madeira, sementes para alimentação humana e da fauna nativa, e resina, sendo portanto de relevância econômica e ecológica. (Mantovani et al. 2004)


- Madeira da araucária um importante produto de exportação nos anos 60 (Reitz et al. 1978) ** desenvolver

- Características silviculturais / potencial para reflorestamentos comerciais (Embrapa 1988, Guerra et al. 2002).** desenvolver

Os trabalhos de biologia reprodutiva relatam ciclos de produção de sementes, que variam entre dois e quatro anos. Conforme observações relatadas por Mantovani e seus colaboradores, os estróbilos femininos, no início de seu desenvolvimento, ocupam as extremidades dos ramos primários conectadas por um pequeno pedúnculo. É provável que o início de seu desenvolvimento ocorra junto com o dos estróbilos masculinos, meses depois (seis meses) ocorre a polinização, período em que as escamas ficam abertas, para a entrada de pólen. Depois da polinização, o crescimento do estróbilo produz uma estrutura compacta que protege o pólen e o desenvolvimento do óvulo. A partir desta fase os estróbilos apresentam crescimento lento durante cerca de 12 meses. Após esta fase, os estróbilos cresceram rapidamente até atingirem a maturação, um ciclo em torno de 24 meses. Os estróbilos femininos de diferentes estações pudem ser identificados pelo seu tamanho e pela distância entre eles, estando separados por sete a nove ramos vegetativos (nos ramos primários).




Os estróbilos femininos são compostos por sementes, escamas não fertilizadas (pinhões chochos), escamas estéreis e um eixo central. Foram encontradas, em média, 605 elementos (férteis + estéreis) constituintes da estrutura reprodutiva feminina, dos quais 13,4% sementes, 1,6% escamas férteis não fertilizadas ou abortadas (pinhões chochos) e 85% de escamas estéreis.

Em média, 41,8% do peso fresco dos estróbilos foram compostos por sementes, 50,7% por escamas estéreis e não fertilizadas e 7,5% pelo eixo central do estróbilo.



estróbilos femininos

Eixo central e escamas em estróbilo feminino




As sementes de araucária são compostas pela testa, endosperma primário e embrião.


eixo central do estróbilo com fungos

A produção de serra pilheira pela Araucária, é o principal meio de transferência dos nutrientes para o solo, possibilitando a sua reabsorção e com isso a manutenção da capacidade produtiva do solo. A quantidade expressiva de nutrientes devolvidos ao solo demonstra a importância da serapilheira, e da sua decomposição. Schumacher e seus colaboradores, em um trabalho avaliando a decomposição anual de serrapilheira,  e  a  devolução  dos macronutrientes (N, P, K, Ca e Mg) em um povoamento de Araucaria com 17 anos de idade, em Pinhal Grande-RS; verificou que no periodo de um ano a serra pilheira depositou  254,3  kg/ha de nutrientes, sendo 177,1 kg/ha de cálcio, o nutriente em maior quantidade. 
"A produção de serapilheira e a devolução de nutrientes em ecossistemas florestais constituem a via mais importante do ciclo biogeoquímico (fluxo de nutrientes no sistema solo-planta-solo). Este ciclo, juntamente com o bioquímico (circulação de nutrientes no interior da planta), permite que as árvores da floresta possam sintetizar a matéria orgânica através da fotossíntese, reciclando principalmente os nutrientes em solos altamente intemperizados, onde a biomassa vegetal é o seu principal reservatório (Schumacher, 2004)".


Falando um pouco sobre a importância da araucária para a fauna, um exemplo é o dos "papagaios-charão (Amazona pretrei)" que dependem das sementes de Araucária para sobreviver. Maria Tereza Jorge Pádua, em 2016 escreveu, sobre a "festas que eles fazem" na cidade com a maior concentração de papagaios-charão do mundo, que é Lages em Santa Catarina, uma cidade conhecida pela festa anual do pinhão, onde muitos desconhem a existência dos papagaios, sua relação com a araucária, e a importância ecológica de ambas espécies.

"Os papagaios charões, considerados ameaçados de extinção, disputam o mesmo alimento com a nossa espécie, quando da maturação da saborosa semente de araucária, espécie também em processo de extinção em nossa natureza. Eles voam até 70 km por dia à procura desse que é seu principal alimento, embora comam também sementes de podocarpos ou pinheiro bravo e poucas outras. Ao entardecer se reúnem em bandos grandes, que parecem nuvens e fazem uma parada em determinadas florestas remanescentes de araucárias. Ao amanhecer, se reúnem em locais predeterminados, como para receber as ordens do dia que emanariam de um comando supremo, e após se acumular nesses locais, a ordem de largada é dada e imediatamente obedecida e festejada com uma grande gritaria".


Leia o material completo da autora:
https://www.oeco.org.br/colunas/maria-tereza-jorge-padua/festa-do-pinhao-pode-celebrar-tambem-o-papagaio-charao/

https://www.oeco.org.br/colunas/maria-tereza-jorge-padua/25077-a-visita-anual-dos-papagaios/

Pinhão, pronto pra cozinhar


Bibliografia consultada e citada:

Fenologia reprodutiva e produção de sementes:

Mantovani, Adelar; Morellato, L. Patrícia C.; Reis, Maurício S. dos. Fenologia reprodutiva e produção de sementes em Araucaria angustifolia (Bert.) O. Kuntze. Brazilian Journal of Botany. Sociedade Botânica de São Paulo, v. 27, n. 4, p. 787-796, 

Serrapilheira:

Produção de serapilheira em uma floresta de Araucaria angustifolia (Bertol.) Kuntze no município de Pinhal Grande-RS (Litterfall in an Araucaria angustifolia forest)
Mauro Valdir Schumacher; Eleandro José Brun; Jonas Inoé Hernandes; Flávia Gizele König

Fauna Silvestre:
https://www.oeco.org.br/colunas/maria-tereza-jorge-padua



Araucárias na Rodovia do Café BR 376